1943.046 – The Big and the Little (Merchant Princes)

Primeira aparição:Astounding Science Fiction, Agosto de 1944
Título em Português:Os Príncipes Mercadores
Publicado no Brasil:Trilogia da Fundação (Aleph, 2019); Fundação (Aleph, 2020)
Comentários:Este conto foi escrito e publicado originalmente ANTES de The Wedge (The Traders), e por isso mesmo aparece aqui nessa ordem. Porém, quando as histórias que formam a série da Fundação foram compiladas em livro pela primeira vez, a ordem desses dois contos foi invertida com bom efeito.

Resenha: Como explicado acima, os contos The Big and the Little (Merchant Princes – Os Príncipes Mercadores) e The Wedge (The Traders – Os Comerciantes) tiveram a ordem de publicação invertida quando a compilação Fundação foi lançada. Porém, como este blog se propõe a fazer uma leitura cronológica, é claro que, no momento da releitura para esta resenha, procurei me manter fiel à ordem em que foram escritos. E qual não foi a minha surpresa ao perceber que eles funcionam muito melhor assim. Não discordo que a inversão foi uma decisão acertada na época, pois ajuda no ritmo do livro como um todo. Porém, ao fazer a leitura na ordem correta, somos presenteados durante a leitura de Os Comerciantes com um contexto mais amplo e também com algumas referências ao que Asimov havia escrito aqui em Os Príncipes Mercadores.

Levando em consideração somente os contos escritos até então, vamos nos lembrar que este é apenas o terceiro conto que avança a história da Fundação. No primeiro e segundo contos temos Salvor Hardin e suas manobras num período de mais de 40 anos para estabelecer a influência da Fundação (e, por consequência, de Terminus – ou será que é ao contrário) por meio do controle científico e tecnológico escondido sob o manto de uma religião fomentada para isso. Agora, no terceiro conto, pela primeira vez temos um novo protagonista: Hober Mallow, um comerciante que se utiliza da superioridade tecnológica da Fundação para consolidar sua influência, iniciando um processo no qual o poder comercial toma o lugar da religião como o centro da expansão contínua da Fundação.

Um parênteses: Asimov era um grande fã dos livros da Agatha Christie e em sua biografia ele comenta que em toda a sua vida somente se deu ao trabalho de ler e reler a obra completa de dois escritores: Agatha Christie e P.G Wodehouse. Com essa informação na cabeça, não consigo deixar de perceber paralelos entre o discurso final de Hober Mallow e os discursos finais do detetive Hercule Poirot. No caso presente, Mallow se coloca no centro e se dirige aos presentes, repassando para todos verem a cena utilizada em sua acusação. Ele a desconstrói, ressignificando algumas partes e trazendo à tona um pequeno “detalhe” que fora mencionado anteriormente pelo narrador de forma completamente desinteressada – mas que é vital para a conclusão do seu caso. Poirot, por sua vez, ficou famoso pelas cenas finais onde junta todos os personagens, suspeitos ou não, em uma sala e faz um discurso onde desconstrói algumas cenas, ressignifica outras e, é claro, descreve o que de fato aconteceu, muitas vezes colocando luz em um fato aparentemente sem nenhuma importância mas que Poirot demonstra ser vital para finalizar o quebra-cabeça. Claro que aqui não se trata necessariamente de uma história de crime ou de mistério, porém é sim uma história de tribunal, um gênero também muito popular – e esses dois elementos presentes aqui parecem corroborar a impressão que a Dama do Crime parece ter causado na versão mais jovem no nosso Bom Doutor.

O conto não é perfeito e algumas passagens ainda revelam a inexperiência e a rigidez de um Asimov se descobrindo e experimentando. Porém é um excelente exemplo da literatura de Asimov, e um ótimo adendo à mitologia e à saga da Fundação. É um pouco inferior aos anteriores, porém isso talvez se deva ao estágio em que a saga da Fundação se encontrava, uma vez que os conceitos mais originais até aqui já haviam sido criados e explorados muito bem nos dois primeiros contos. Neste estágio, Asimov está se valendo do universo que criou para criar uma história que, sim, dá prosseguimento à saga e move a história para frente, e por isso talvez cause menos impacto. Muita coisa que viria depois causaria um impacto muito maior, mas isso é assunto pra depois. Por isso mesmo, enquanto a barra ainda não subiu, vamos ficando, sim, com um Asimov Verde.

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