Náufragos em Órbita
Náufragos em Órbita
(Nova tradução livre do blog Eu, Asimov – por João Wolf)
— Dá pra fazer o favor de parar de andar pra cima e pra baixo assim? — disse Warren Moore largado no sofá. — Não nos trará nenhum benefício. Pense em como somos sortudos, estamos hermeticamente protegidos, não estamos?
Mark Brandon girou rapidamente, abriu um sorriso amarelo e disse, em tom malicioso — Se esse pensamento lhe deixa satisfeito, fico feliz por você. Naturalmente, você ainda não sabe que nosso suprimento de ar vai durar somente três dias — E retomou com um ar desafiador à sua caminhada que havia sido interrompida.
Moore bocejou e se espreguiçou, se ajeitou numa posição mais confortável, e retrucou — Gastar toda essa energia só vai consumir ainda mais rápido o nosso ar. Por que você não segue o exemplo do nosso Mike aqui? Ele está de boa.
“Mike” era Michael Shea, outrora também um tripulante da Silver Queen. Seu corpo pequeno e atarracado descansava sobre a única cadeira do cômodo e seus pés estavam sobre a única mesa. Ele olhou para cima quando seu nome foi mencionado, sua boca se esticou em um contorcido e irônico sorriso.
— Você já tem que ficar na expectativa que coisas assim possam acabar acontecendo alguma vez — ele disse. — Viajar por entre asteroides é um negócio arriscado. Devíamos ter dado o salto. Leva mais tempo, mas é a única maneira segura. Mas não, o capitão queria permanecer no prazo, ia conseguir passar com certeza… — Mike cuspiu com nojo — e agora aqui estamos.
— O que quer dizer com ‘dar o salto’? — perguntou Brandon.
— Ah, creio que nosso amigo Mike quer dizer que nós deveríamos ter evitado o cinturão de asteroides traçando um curso por fora do plano da elíptica — respondeu Moore. — É isso, não é, Mike?
Mike hesitou e então respondeu, com cuidado — Sim… Acho que é isso.
Moore sorriu maliciosamente e continuou — Bem, eu não colocaria toda a culpa no Capitão Crane. A tela repulsora deve ter falhado uns cinco minutos antes que aquele pedaço gigante de granito nos atingisse. Isso não foi culpa dele, apesar de que nós devíamos ter adotado um curso seguro em vez de ter confiado na tela. — Ele balançou a cabeça pensativo. — A Silver Queen simplesmente se despedaçou. Foi realmente um milagre que esta parte da nave tenha permanecido intacta e, mais ainda, hermeticamente fechada.
— Você tem um estranho conceito de sorte, Warren — disse Brandon. — Sempre teve, desde que conheci você. Aqui estamos nós, presos na décima parte de uma espaçonave, com somente três compartimentos inteiros, com ar para três dias e sem nenhuma perspectiva de estarmos vivos após esse prazo, e você ainda tem a pachorra de ficar falando de sorte.
— Comparado com os outros que morreram instantaneamente quando o asteroide nos atingiu, sim — foi a resposta de Moore.
— Você acha mesmo, né? Bem, vou te falar que morte instantânea não me parece tão ruim comparado com o que nós vamos ter que passar. Morrer sufocado é uma droga de uma maneira desagradável de morrer.
— Talvez achemos uma saída — disse Moore, esperançoso.
— Por que vocês não encaram os fatos? — O rosto de Brandon estava vermelho e a sua voz tremia. — A gente já era, estou te dizendo. Já era!
Mike deu uma olhada para um e para o outro com ar de dúvida e tossiu para atrair a atenção deles.
— Bem, rapazes, já que estamos no mesmo barco, acho que não adianta ficar monopolizando as coisas. — Ele sacou de dentro de seu bolso uma pequena garrafa que estava cheia de um líquido esverdeado. — Isto é Jabra da melhor qualidade. Não sou tão orgulhoso que não possa compartilhar, e em partes iguais.
Brandon demonstrou os primeiros sinais de prazer de todo o dia.
— Água Marciana Jabra. Porque você não falou nada antes?
Mas quando ele avançou para pegar a garrafa, uma mão firme agarrou seu pulso. Ele olhou para os calmos olhos azuis de Warren Moore
— Não seja idiota, — disse Moore — não há suficiente para nos deixar bêbados por três dias. O que você quer fazer? Ficar doidão agora e depois morrer sóbrio e frio? Vamos guardá-la para as últimas seis horas quando o ar ficar pesado e a respiração começar a doer — aí esvaziaremos essa garrafa entre a gente e nunca saberemos quando o fim chegar, ou pelo menos não nos importaremos.
A mão de Brandon se deixou cair de forma relutante.
— Mas que droga, Warren, se você levasse um corte você sangraria gelo. Como você pode consegue pensar de forma lógica numa hora dessas? — Ele começou a se mover na direção de Mike e a garrafa foi guardada novamente. Brandon andou até a vigia e olhou lá pra fora. Moore se aproximou e colocou um braço gentil sobre os ombros do rapaz mais jovem.
— Porque levar tudo tão a sério, cara? — Ele perguntou. — Você não vai durar muito nesse ritmo. Dentro de vinte e quatro horas você vai estar louco se continuar assim. — Não houve nenhuma resposta. Brandon olhava fixamente para o astro circular que preenchia quase completamente a vigia, então Moore continuou a falar. — Vesta também não vai te ajudar.
Mike Shea se aproximou lentamente da vigia. — Se pelo menos estivéssemos lá em baixo, em Vesta, estaríamos seguros. Há gente lá. A que distância estamos?
— Não mais do que 400 ou 500 quilômetros, julgando pelo tamanho aparente — respondeu Moore. Lembre-se que Vesta possui somente 300 quilômetros de diâmetro.
— Nossa salvação está a 400 quilômetros, — murmurou Brandon — mas para a gente é como se fosse um bilhão. Se pelo menos houvesse uma maneira de sairmos dessa órbita que este pedaço de metal podre adotou. Entende, se conseguíssemos nos dar um empurrão pra começarmos a cair… Não haveria perigo na queda se conseguíssemos, porque esse anãozinho não tem gravidade suficiente para destruir nem uma bomba de creme na queda.
— Mas tem o suficiente pra nos manter em órbita — retrucou Brandon. — Deve ter nos pego quando estávamos inconscientes depois do acidente. Queria que tivesse ficado mais próximo, nós teríamos sido capazes de pousá-lo.
— Lugar esquisito, esse Vesta — observou Mike Shea. — Eu estive lá em baixo duas ou três vezes. Uma lixeira! É todo coberto com um treco que parece neve, só que não é neve. Eu me esqueci do que eles chamam esse treco.
— Dióxido de carbono congelado? — disparou Moore.
— Isso, gelo seco, aquele lance de carbono, isso mesmo. Eles dizem que é por isso que Vesta é tão brilhante.
— Naturalmente! Isso causaria mesmo um alto coeficiente de albedo.
Mike lançou um olhar desconfiado para Moore mas resolveu deixar passar.
— É difícil conseguir ver qualquer coisa lá em baixo por causa da neve, mas se você olhar com atenção — ele apontou — conseguirá ver uma espécie de borrão cinza. Eu acho que é a Abóbada Bennet. É onde eles mantém o observatório. E logo acima temos a Abóbada Calorn. Ali é uma estação de combustível, é sim. Há muitas mais, só que eu não consigo vê-las. — Ele hesitou e então virou-se para Moore. — Chefe, escute, eu estive pensando. Você não acha que eles começariam a procurar por nós assim que escutassem sobre o acidente? E não seria mais fácil para nós sermos encontrados a partir de Vesta, considerando que estamos tão perto?
— Moore balançou a cabeça. — Não, Mike, eles não estão nos procurando. Ninguém vai saber sobre o acidente até que a Silver Queen deixe de aparecer no dia marcado. Sabe, quando o asteroide nos atingiu, não tivemos tempo de mandar um SOS — ele suspirou — e eles também não vão nos encontrar ali em Vesta. Nós somos tão pequeninos que mesmo a essa distância eles não poderiam nos ver, a não ser que soubessem o que estão procurando, e que soubessem exatamente onde procurar.
— Hmm. — A testa de Mike estava franzida em profundos pensamentos. — Então temos que chegar a Vesta antes que se passem os três dias.
— Você pegou o espírito da coisa, Mike. — Se pelo menos soubéssemos como fazer isso, hein?
Brandon explodiu de repente — Será que vocês poderiam parar com esse taca-taca infernal e fazer alguma coisa? Pelo amor de Deus, façam alguma coisa.
— Moore encolheu os ombros e sem dar nenhuma resposta voltou à poltrona. Ele recostou-se de forma confortável, mas havia uma pequena dobra entre seus olhos que revelavam sua concentração. Não havia nenhuma dúvida: eles estavam em uma péssima situação. Ele relembrou os eventos do dia anterior pela, provavelmente, vigésima vez. Assim que o asteroide bateu, rasgando a nave ao meio, ele apagou rápido como a luz; por quanto tempo ele não sabia, já que seu próprio relógio havia quebrado e não havia nenhum outro marcador de tempo disponível. Quando veio a si, descobriu que ele mesmo, juntamente com Mark Brandon, com quem ele dividia a cabine, e Mike Shea, um membro da tripulação, eram os únicos ocupantes que restavam do que sobrara da Silver Queen. Este pedaço que sobrara agora adernava na órbita de Vesta. No momento a situação era até confortável. Havia alimento para uma semana. Também havia um gravitador de área sob o piso que os mantinham com seus pesos normais e que continuaria a fazer isso por tempo indeterminado, certamente por mais tempo do que o ar iria durar. O sistema de luzes estava em condições menos satisfatórias mas estava aguentando até agora.
Mas não havia dúvida onde estava o problema. Três dias de ar! Não que não houvesse outras coisas desanimadoras. Não havia nenhum sistema de aquecimento — apesar de que levaria muito tempo para que a nave irradiasse calor suficiente no vácuo do espaço para deixá-los desconfortáveis. Muito mais importante era o fato de que a parte da nave em que eles estavam não possuía nem meios de comunicação, nem mecanismos de propulsão. Moore suspirou. Um jato de combustível funcionando resolveria tudo, bastaria um pequeno disparo na direção certa e eles seriam enviados com segurança até Vesta.
A dobra entre seus olhos ficou mais funda. O que havia para ser feito? Eles tinham somente uma roupa espacial, uma pistola de calor e um detonador. Aquela era a soma total de ferramentas espaciais que eles tinham, após uma busca completa pelas partes acessíveis da nave. Uma bela confusão… Moore se encolheu, se levantou e pegou um copo d’água. Engoliu mecanicamente, ainda mergulhado em pensamentos, quando uma ideia o atingiu. Ele olhou com uma expressão curiosa para o copo vazio em sua mão.
— Mike, me diz uma coisa, que tipo de suprimento de água nós temos? Engraçado eu não ter pensado nisso antes.
Os olhos de Mike se arregalaram ao máximo numa expressão caricata de surpresa. — Você não sabia, chefe?
— Sabia o que? — perguntou Moore sem paciência.
— Nós temos toda a água que havia. — Ele fez um gesto amplo com as mãos. Ele parou, mas como a expressão de Moore não revelou nada além de total falta de compreensão, ele continuou a explicação. — Você não está entendendo? Nós temos o tanque principal, o lugar onde toda a água de toda a nave era guardada. — Ele apontou para uma das paredes.
— Você quer dizer que há um tanque cheio de água colado em nós?
Mike assentiu vigorosamente — Isso aí! IVA cúbico de 30 metros cada lado. E está 75% cheia.
Moore estava atônito. — 230 quilômetros cúbicos de água. — Então de repente: — Por que a água não vazou pelos canos partidos?
— O tanque tem somente uma única saída, que passa pelo corredor bem do lado de fora deste compartimento. Eu estava consertando esse cano principal quando o asteroide nos atingiu, então tive que fechá-lo. Depois que eu voltei a mim, abri o cano que vinha até à nossa torneira, mas essa é a única saída aberta no momento.
— Oh. — Moore sentiu uma sensação esquisita em suas entranhas mais profundas. Uma ideia estava querendo se formar em seu cérebro, mas por tudo o que é mais sagrado ele não estava conseguindo ligar todos os pontos. Ele sabia apenas que havia ouvido algo recentemente que continha algum significado importante, mas ele não conseguia determinar exatamente o que era.
Brandon, enquanto isso, estava escutando Shea em silêncio, e agora emitia uma risada curta e sem humor. — O Destino parece estar brincando conosco… Primeiro, nos coloca em uma curta distância de um lugar seguro mas garante que não haja nenhuma forma de nós chegarmos lá. Depois nos oferece comida para uma semana, ar para três dias, e água para um ano! Água para um ano, você está me ouvindo? Água suficiente para beber e fazer gargarejo e pra lavar e tomar banhos e… e fazer qualquer outra coisa que quisermos. Água — dane-se a água!
— Mark, você precisa ver o lado positivo das coisas — disse Moore numa tentativa de dissolver a melancolia do rapaz. — Finja que somos um satélite de Vesta… e somos mesmo, pensando bem. Temos nosso próprio período de revolução e rotação. Temos um equador e um eixo. Nosso polo norte está localizado em algum lugar acima da vigia, apontando na direção de Vesta, e nosso “sul” está na distância oposta a Vesta, em algum lugar posterior ao tanque de água. Bem, sendo um satélite, temos uma atmosfera e, veja bem, um recém-descoberto oceano. Fala sério, não estamos tão mal assim. Durante os três dias de ar que ainda temos, podemos comer rações em dobro e beber água até ficarmos com os poros encharcados. Inferno, nós temos água o bastante para jogar fora!
A ideia, que tinha se formado pela metade, imediatamente completou-se e entrou em foco. O gesto descuidado com o qual tinha acompanhado a última observação ficou congelado em pleno ar. Sua boca fechou com um estalo e sua cabeça levantou com um movimento brusco. Mas Brandon, imerso em seus próprios pensamentos, não reparou nas estranhas ações de Moore.
— Por que você não termina a sua analogia do satélite — ele disparou — ou será que você, tal qual um otimista profissional, ignora todos os fatos desagradáveis? Se fosse eu no seu lugar, eu continuaria assim: — Ele começou a imitar a voz de Moore — No momento o satélite é habitável e tem pessoas vivendo nele mas, devido ao esgotamento de sua atmosfera em 3 dias, se tornará em breve um mundo morto. Bem, por que não responde? Por que insiste em fazer piada com a situação? Não percebe… Qual é o problema?
— A última frase foi uma exclamação de surpresa e as ações de Moore certamente causavam surpresa. Ele havia ficado de pé rapidamente e, após dar um tapinha na própria testa permaneceu imóvel e silencioso, olhando a distância com as pálpebras gradualmente se fechando. Brandon e Mike Shea o observavam com um espanto silencioso.
De repente Moore explodiu.
— A-ha! Consegui. Por que não pensei nisso antes!? — Suas exclamações foram ficando inteligíveis.
Mike pegou a garrafa de Jabra com um olhar significativo, mas Moore a afastou com impaciência. Na mesma hora Brandon, sem nenhum aviso, deu um golpe com a direita, atingindo Moore de surpresa no queixo e derrubando-o no chão.
Moore rosnou e esfregou o queixo. Um tanto indignado, perguntou:
— Por que você fez isso?
— Levante-se e farei novamente! — gritou Brandon — Eu não aguento mais. Não aguento mais os seus sermões e ter que ouvir esse papinho. Você é que está ficando doido.
— Doido que nada! Só um pouco empolgado demais, só isso. Escutem, pelo amor de Deus. Eu acho que descobri uma maneira de…
Brandon olhou ressentido pra ele. — Descobriu, é? Levanta as nossas esperanças com algum plano de meia tigela e depois descobre que não funciona. Não quero saber, ouviu? Eu é que descobri um uso melhor pra essa água: afogar você e ainda economizar um pouco de ar.
Moore perdeu a paciência.
— Escute, Mark, fique fora disso. Deixe que eu me viro. Eu não preciso e não quero a sua ajuda. Já que você tem tanta certeza que vamos morrer e tem tanto medo, por que não termina logo essa agonia? Temos uma pistola de calor e um detonador, ambos em perfeito funcionamento. Faça a sua escolha e se mate. Shea e eu não vamos interferir. — Os lábios de Brandon se apertaram como que num último e fraco gesto de desafio e, de repente, ele desistiu, abjeta e completamente.
— Ok, Warren, estou com você. E-Eu acho que eu não tinha muita certeza do que eu estava falando. Eu não me sinto muito bem, Warren. E-Eu…
— Está tudo bem, rapaz. — Moore estava genuinamente com pena dele. — Tenha calma. Sei como você se sente. Também me pegou. Mas você não deve ceder. Lute contra isso, ou você ficará completamente louco. Bem, agora tente dormir um pouco e deixe tudo comigo. As coisas vão dar certo no final.
Brandon, apertando sua mão na testa dolorida, foi tropeçando até o sofá e se deixou cair. Soluços silenciosos sacudiam seu corpo enquanto Moore e Shea permaneceam em um silêncio embaraçoso ali perto.
Depois de alguns instantes, Moore deu uma cutucada em Mike — Vamos — ele sussurrou — vamos começar. Temos que ir a alguns lugares. A cabine cinco é no final do corredor, certo? —Shea fez que sim com a cabeça e Moore continuou — Pressurizada e impermeável ao ar?
— Bem — disse Shea após pensar um pouco — a porta de dentro é, com certeza, mas não sei nada sobre a porta de fora. Pelo que sei pode até ser uma peneira. Entende, quando eu testei a parede quanto à impermeabilidade ao ar, eu não ousei abrir a porta de dentro, porque se houvesse algo errado com a porta de fora… bum! — o gesto que acompanhou essa última palavra foi deveras expressivo.
— Então nos cabe descobrir qual a condição dessa porta externa agora mesmo. Eu tenho que dar um jeito de ir lá fora e teremos que nos arriscar. Onde está a roupa espacial?
Ele pegou a única roupa espacial que havia no armário, jogou por sobre os ombros e seguiu pelo longo corredor que descia pela lateral da cabine. Ele passou por portas fechadas atrás das quais, em algum momento, já houve cabines de passageiros, mas que agora eram meras aberturas para o espaço. Ao final do corredor havia a porta bem fechada da cabine pressurizada de número 5.
Moore parou e ficou observando e analisando a porta. — Parece tudo bem — ele comentou — mas naturalmente não dá pra saber o que há do outro lado. Deus, eu espero que funcione. — Franziu a testa — Claro que poderíamos usar esse corredor inteiro como cabine pressurizada, a porta para o nossa área como a porta interna e esta porta aqui como a porta externa, mas isso significaria perder metade do nosso suprimento de ar. Não podermos nos dar ao luxo.
Ele se virou para Shea — Então. O indicador mostra que a porta foi usada pela última fez para entrada, então a câmara deve estar cheia de ar. Abra somente uma fresta na porta e se houver um assobio fino, feche-a rapidamente.
— Aqui vai — e moveu a alavanca um encaixe. O mecanismo havia sido severamente abalado durante o choque do acidente e seus mecanismos anteriormente silenciosos deram lugar a um som áspero, duro, mas ainda assim funcionando. Uma fina linha preta apareceu do lado esquerdo da porta, marcando onde ela havia deslizado uma fração de milímetro em seu encaixe.
Não havia assobio! A expressão de ansiedade no rosto de Moore diminuiu um pouco. Ele pegou um cartão de dentro de seu bolso e segurou-o próximo à fenda. Se o ar estivesse escapando, o cartão deveria ficar preso, empurrado pelo gás. Mas caiu no chão.
Mike Shea colocou um dedo na boca e depois na fenda. — Graças a Deus — suspirou — nem sinal de corrente de ar.
— Bom, muito bom. Abra mais um pouco. Vamos.
Mais um encaixe da alavanca e a fenda abriu-se mais um pouco. Nada de corrente de ar ainda. Lentamente, encaixe por encaixe, eles abriram a passagem cada vez mais. Os dois homens haviam prendido a respiração, temerosos de que, apesar de não estar perfurada, a porta de fora pudesse estar tão enfraquecida que poderia ceder a qualquer momento. Mas ela se mantinha no lugar!
Moore era só alegria enquanto entrava na roupa espacial.
— As coisas estão indo muito bem até agora, Mike. — ele disse — Fique sentado bem aqui e espere por mim. Não sei quanto tempo vai levar, mas eu vou voltar. Onde está a pistola de calor? Está com você?
Shea entregou a arma e perguntou — Mas o que você vai fazer? Eu meio que gostaria de saber.
Moore parou antes de afivelar o capacete. — Você me ouviu dizer lá dentro que nós temos água suficiente para jogar fora? Bem, eu tenho pensado nisso e até que não é uma má ideia. Eu vou jogar a água fora.
Sem dar nenhuma outra explicação, ele entrou na cabine pressurizada, deixando para trás um Mike Shea muito confuso.
O coração de Moore batia forte enquanto ele aguardava a abertura da porta. Seu plano era extraordinariamente simples, mas não tão fácil de ser realizado.
Havia um som de equipamento chiando e engrenagens arranhando. O ar começou a sair para o nada. A porta diante dele deslizou alguns centímetros para abrir e então ficou presa. O coração de Moore parou por um instante ao pensar que ela não abriria, mas após alguns empurrões e puxões, ela deslizou até o fim.
Ele acionou o gancho magnético e, com muito cuidado, colocou seu pé para fora, no espaço. Desajeitadamente, conseguiu sair e ficar do lado de fora da nave. Ele nunca havia estado do lado de fora de nenhuma nave no espaço até então e um vasto pavor tomou conta dele enquanto ficava ali pendurado, como uma mosca, em seu precário poleiro. Por um momento a tontura o dominou. Ele fechou os olhos por cinco minutos ali pendurado, se agarrando nas laterais do que um dia havia sido a Silver Queen. O gancho magnético o segurava firmemente e, quando ele abriu novamente os olhos, sua autoconfiança havia retornado em certa medida.
Olhou em torno de si. Pela primeira vez desde o acidente ele pode ver as estrelas em vez de Vesta, que era a única coisa que dava pra ver através da vigia. Ansiosamente, buscou nos céus o pequeno ponto branco e azul que seria a Terra. Ele sempre achara engraçado que a Terra fosse sempre o primeiro objeto que os viajantes espaciais procuravam ao olhar para as estrelas, mas a graça da situação dessa vez passou longe dos seus pensamentos. Sua busca foi em vão. De onde ele estava, a Terra era invisível. Tanto o planeta, como o Sol, devem estar escondidos atrás de Vesta.
Ainda assim, havia muitas outras coisas que ele não pode deixar de notar. Júpiter estava a sua esquerda, um globo brilhante do tamanho de uma pequena ervilha. Moore pode observar dois de seus satélites. Saturno também estava visível, um planeta brilhante de certa magnitude negativa, rivalizando com Vênus como visto da Terra.
Moore achava que um grande número de asteroides também seriam visíveis – já que eles tinham naufragado no meio do cinturão de asteroides – mas o espaço parecia surpreendentemente vazio. Em um certo momento, pensou ter visto um corpo arremessado da nave passar a alguns quilômetros de distância, mas a impressão foi tão rápida que ele não poderia jurar que havia sido real.
E então, claro, havia Vesta. Quase diretamente abaixo dele, agigantava-se como um balão que preenchia um quarto de todo o céu. Ele flutuava firmemente, branco como a neve, e Moore olhou para ele com um desejo ansioso. Um impulso bem forte com as pernas contra o casco da nave — ele pensou — poderia iniciar sua queda na direção de Vesta. Ele talvez conseguisse pousar em segurança e conseguir ajuda para os outros. Mas o resultado mais provável é que ele simplesmente iria entrar em outra órbita ao redor de Vesta. Não, teria que ser melhor do que isso. Isso o lembrou que ele não tinha tempo a perder. Ele deu uma boa olhada pelo lado da nave, procurando pelo tanque de água, mas tudo o que conseguia ver era uma maçaroca de anteparas projetadas para fora, amassadas, despedaçadas e pontiagudas. Ele hesitou. Parecia claro que a única coisa a fazer era chegar até a vigia iluminada da sala onde eles estavam e continuar dali até o tanque.
Cuidadosamente ele foi se arrastando pelo casco da nave. A não mais do que quatro metros da cabine pressurizada, a regularidade da superfície terminava abruptamente. Havia uma cavidade escancarada que Moore reconheceu como sendo o local onde anteriormente havia uma cabine adjunta ao corredor. Ele teve um arrepio. E se ele se deparasse com um cadáver inchado em um desses quartos? Ele conhecia a maioria dos passageiros, a maioria deles pessoalmente.
Mas ele superou seus receios e se forçou a continuar sua precária jornada em direção ao seu objetivo.
E então ele encontrou a primeira dificuldade prática. A cabine em si era feita de material não-metálico em várias partes. O gancho magnético foi feito para ser usado somente no casco externo e era inútil em muitas partes internas da nave. Moore havia se esquecido disso quando de repente se deu conta que estava flutuando e escapando do alcance, sem poder usar seu gancho. Ele engasgou e se agarrou em uma parte pontuda próxima. Lentamente ele puxou a si mesmo de volta a uma área segura.
Deitou-se por um momento, quase sem ar. Em teoria, ele não deveria ter peso aqui fora no espaço – a influência da gravidade de Vesta é mínima – mas o gravitador local abaixo de sua cabine ainda funcionava. Sem o equilíbrio dos outros gravitadores, ele começou a aplicar forças variáveis e rapidamente mutáveis conforme ele ia mudando de posição. Se o gancho magnético se soltasse de repente nessas condições, isso poderia significar ser lançado de uma só vez para longe da nave. E aí?
Estava na cara que isso ainda seria mais difícil do que ele pensara.
Ele continuou a avançar centímetro a centímetro, agachado, testando cada áreazinha para ver se o gancho magnético funcionaria. Algumas vezes teve que fazer caminhos longos e circulares para avançar apenas alguns metros, e as vezes era forçado a trepar e escorregar por sobre partes de material não-metálico. E sempre havia o cansativo puxão do gravitador, continuamente mudando de direção enquanto ele avançava, estabelecendo chãos horizontais e anteparas verticais em ângulos estranhos e quase aleatórios.
Com cuidado, ele investigou todos os objetos com os quais se deparou. Mas era uma busca inútil. Objetos soltos, cadeiras, mesas, tudo havia sido lançado longe no primeiro impacto, provavelmente, e agora eram corpos independentes no Sistema Solar. Ele conseguiu, no entanto, pegar uma espécie de pequena luneta e uma caneta-tinteiro. Colocou os objetos no bolso. Não tinham valor nenhum nas condições atuais mas, de alguma forma, eles pareciam deixar essa viagem macabra pela lateral de uma nave morta um pouco mais real.
Por 15 minutos, 20, meia-hora, ele avançou lentamente em direção aonde ele achava que a vigia deveria estar. O suor escorria para dentro de seus olhos e seus cabelos pareciam uma espécie de massa molhada. Seus músculos começavam a doer por causa dos esforços a que não estava acostumado. A cabeça, já esgotada por causa dos desafios do dia anterior, começava a vacilar, a pregar-lhe peças.
Aquele rastejar parecia eterno, algo que ele fizera para sempre e que para sempre continuaria fazendo. O objetivo de sua jornada, a razão de todo aquele esforço, parecia sem importância; tudo o que sabia é que era necessário mover-se. Aqueles momentos, há uma hora atrás, em que ele estivera com Brandon e Shea, pareciam confusos e perdidos num passado distante. Aquela época mais normal, há dois dias atrás, completamente esquecida. Diante dele, apenas as paredes recortadas, apenas a necessidade vital de chegar a algum destino incerto existiam em sua mente que rodopiava. Agarrar, esticar, puxar. Procurar as ligas de ferro. Subir e entrar nos buracos que já foram quartos e depois sair novamente. Sentir e puxar. Sentir e puxar. Sentir e… uma luz.
Moore parou. Se ele não estivesse grudado na parede ele teria caído. De alguma forma a luz parecia clarear algumas coisas. Era a vigia. Não aquelas escuras pelas quais passara, mas uma viva e acesa. Atrás dela estaria Brandon. Ele respirou fundo e se sentiu melhor, sua cabeça clareando.
E agora o caminho estava aberto diante dele. Em direção àquela centelha de vida, ele se agarrou a esse pensamento. Mais perto, e mais perto, e mais perto, até que ele pode tocá-la. Havia chegado!
Seus olhos mergulharam na cabine tão familiar. Deus sabia que ela não trazia nenhuma associação feliz em sua mente, mas pelo menos era algo real, algo quase natural. Brandon dormia no sofá. Seu rosto estava cansado e pálido, mas um sorriso aparecia vez por outra.
Moore levantou o pulso para bater. Ele sentia um desejo urgente de falar com alguém, nem que fosse por sinais; mas ele se segurou no último instante. Talvez o garoto estivesse sonhando com a sua casa. Ele era jovem e sensível e havia sofrido muito. Deixe-o dormir. Haverá tempo suficiente para acordá-lo quando – e se – sua ideia tiver sido posta em prática.
Ele encontrou a parede dentro da cabine atrás da qual estava o tanque de água e tentou localizá-lo pelo lado de fora. Agora não era tão difícil; a parede de trás se destacava proeminentemente. Moore ficou maravilhado, pois parecia um milagre que ela tenha escapado de ser perfurada. Talvez o Destino não tenha sido tão irônico com eles como eles pensavam. A passagem até lá foi fácil, apesar de estar do outro lado do fragmento. O que fora antes um corredor dava diretamente até lá. Quando a Silver Queen estava inteira, esse corredor havia sido plano e horizontal, mas agora, sob o efeito desequilibrado do gravitador local, parecia mais uma ladeira inclinada. Mesmo assim, o caminho era simples. Já que era feito de aço-berilo uniforme, Moore não encontrou dificuldade enquanto percorria os seis metros até o suprimento de água.
E agora a crise – a última etapa – havia sido alcançada. Ele sentia que precisava descansar primeiro, mas sua ansiedade crescia rapidamente em intensidade. Era agora ou nunca. Ele se arrastou até o centro inferior do tanque. Lá, encostado em uma pequena saliência formada pelo chão do corredor que um dia havia se estendido naquele lado do tanque, ele começou os trabalhos.
— É uma pena que o cano principal esteja apontando na direção errada — ele murmurou para si. — Teria me poupado um trabalhão se estivesse do lado certo. Do jeito que está… — Ele suspirou e voltou ao trabalho. O raio de calor foi ajustado para concentração máxima e as emanações invisíveis foram focadas em um ponto a aproximadamente 25 centímetros acima do chão do tanque.
Gradualmente, o efeito do raio sobre as moléculas no casco começou a ficar aparente. Um ponto do tamanho de uma moeda começou a brilhar fracamente no ponto no qual o raio de calor estava focado. Vacilava um pouco, às vezes diminuindo, às vezes aumentando, enquanto Moore lutava para firmá-lo com seu braço cansado. Ele se apoiou na saliência e conseguiu melhores resultados e o pequeno círculo de radiação começou a brilhar mais forte.
Lentamente, a coloração foi subindo no espectro. O vermelho escuro que apareceu primeiro se iluminou numa cor de cereja. Enquanto o calor continuava a jorrar, o brilho ia se espalhando por uma área maior, como um alvo feito de camadas sucessivas de tons de vermelho cada vez mais escuros. A área ao redor do ponto focal estava ficando desconfortavelmente quente, mesmo sem brilhar, e Moore achou melhor não tocá-la com o metal de sua roupa.
Moore começou a xingar, pois a própria saliência estava ficando quente. Parecia que praguejar era única coisa que o mantinha firme. E quando uma parede derretida começou a irradiar calor à sua direita, o principal alvo de suas maledicências passaram a ser os fabricantes da sua roupa espacial. — Por que eles não fabricaram uma roupa capaz de manter o calor do lado de fora tão bem quanto mantém o calor dentro?
Mas logo surgiu aquilo que Brandon chamara de otimismo profissional. Com o gosto salgado de suor em sua boca, ele se consolava. — Podia ser pior, acho. Pelo menos, os cinco centímetros de espessura da parede não formam propriamente uma barreira. Imagine se o tanque tivesse sido construído contra o casco externo. Ufa! Imagine tentar passar por 30 centímetros de espessura! — Cerrou os dentes e continuou.
O ponto de luz estava agora brilhando numa cor amarelo-alaranjada e Moore sabia que o ponto de derretimento da liga de aço-berilo estava próximo. O brilho o obrigava a observar o ponto somente a certos intervalos de tempo e, mesmo assim, por apenas alguns momentos.
Era evidente que tudo teria que ser feito rapidamente, ou não daria certo. A pistola de calor não havia sido carregada totalmente pra começo de conversa e, disparando energia em potência máxima como ele vinha fazendo por quase dez minutos, já devia estar chegando ao fim da carga. No entanto ele estava ainda apenas passando pela camada plástica. Em um impulso de impaciência, Moore empurrou o centro do ponto com a boca da arma, e rapidamente a puxou de volta.
Uma depressão profunda se formou no metal macio, mas ainda sem perfurar. Mas Moore estava satisfeito. Já estava quase lá. Se houvesse ar entre ele e a parede, sem dúvida ele já teria ouvido o borbulhar da água dentro do tanque e o assovio do vapor. A pressão estava aumentando. Por quanto tempo mais a parede enfraquecida iria aguentar?
Então, de forma tão repentina que Moore por alguns momentos nem percebeu, ele havia conseguido. Uma fissura minúscula se formou no fundo daquela depressão feita pela boca da arma e, em menos tempo que se leva para imaginar, a agitada água lá de dentro abriu caminho.
O metal, líquido e macio naquele ponto, formou uma bolha e se rompeu, abrindo um buraco do tamanho de uma ervilha. E daquele buraco veio um assobio e um rugido. Uma nuvem de vapor surgiu e cobriu Moore. De dentro da neblina ele conseguia ver que o vapor se condensava quase que imediatamente em cubículos de gelo, que se encolhiam rapidamente e sumiam. Por 15 minutos ele observou o jato de vapor sair. Até que ele se deu conta de uma leve pressão que o empurrava para fora da nave. Uma alegria selvagem tomou conta dele quando percebeu que isso era o efeito da aceleração da nave. Era a sua própria inércia que o impulsionava para trás. Isso significava que seu trabalho estava terminado – e com sucesso. Aquele jato de água estava fazendo as vezes de um foguete.
Ele começou a voltar.
Se os horrores e perigos da jornada até o tanque haviam sido enormes, a volta deveria ser ainda pior. Ele estava infinitamente mais cansado, seus olhos doloridos estavam quase cegos e, somada aos puxões loucos do gravitador, havia a força criada pela variação da aceleração da nave. Mais quaisquer que fossem os problemas para retornar, eles não o preocupavam. Posteriormente, ele nem se lembraria do caminho doloroso.
Como ele conseguira percorrer aquela distância em segurança, ele não sabia. A maior parte do tempo ele estava envolto numa loucura de alegria, mal se apercebendo da realidade da situação. Ele só tinha um pensamento – retornar rapidamente para poder contar as boas-novas.
De repente ele percebeu que estava diante da porta da cabine pressurizada. Ele mal se deu conta de que era a cabine. Praticamente não sabia porque apertou o botão sinalizador. Algum tipo de instinto o mandou fazê-lo. Mike Shea estava esperando. Houve um estalo e um estrondo e a porta exterior começou a abrir, ficou presa e parou no mesmo lugar de antes, mas uma vez mais conseguiu abrir até o final. Fechou-se atrás de Moore, então a porta de dentro abriu e ele caiu nos braços de Shea.
Como num sonho, ele sentiu ser puxado, carregado pelo corretor até a cabine. Sua roupa espacial foi rasgada. Um líquido quente ardeu em sua garganta. Moore engasgou, engoliu, se sentiu melhor. Shea guardou a garrafa de Jabra de novo em seu bolso. As imagens borradas de Brandon e Shea diante dele foram ficando mais nítidas até ficarem claras. Moore secou o suor do rosto com a mão tremendo e ensaiou um sorriso fraco.
— Espere — protestou Brandon — não diga nada. Você parece meio morto. Descanse, ok?
Mas Moore fez que não com a cabeça. Com uma voz rouca e arranhada ele narrou o melhor que pode os eventos das últimas duas horas. A história era incoerente e pouco inteligível mas maravilhosamente impressionante. Os dois ouvintes praticamente não respiraram durante a narrativa.
— Você está dizendo — gaguejou Brandon — que o jato de água está nos empurrando em direção a Vesta, como se fosse um foguete?
— Exato. Como um foguete — arquejou Moore. — Ação e reação. Está localizado… no lado oposto a Vesta… dessa forma… nos empurrando em direção a Vesta.
Shea estava dançando diante da vigia.
— Ele tem razão, Brandon, meu rapaz! Dá para ver a Cúpula de Bennet clara como o dia. Estamos nos aproximando, estamos nos aproximando.
Moore sentiu-se melhor. — Nós estamos nos aproximando numa rota em espiral por causa da nossa órbita original. Iremos pousar dentro de 5 ou 6 horas, provavelmente. A água vai durar por um bom tempo e a pressão ainda é grande, já que a água está jorrando como vapor.
— Vapor? Na baixa temperatura do espaço? — Brandon estava surpreso.
— Vapor… Na baixa pressão do espaço. — corrigiu Moore. — O ponto de fervura da água cai junto com a pressão. É muito baixo no vácuo. Mesmo o gelo possui uma pressão de vapor suficiente para sublimar. — Ele sorriu. — Na verdade, a água congela e ferve ao mesmo tempo. Eu vi. Vamos fazer uma pequena pausa, então. Bem, como se sente agora, Brandon? Muito melhor, hein?
— Brandon corou e seu rosto baixou. Por alguns momentos, buscou as palavras certas. Finalmente ele falou, num susurro. — Sabe de uma coisa, eu devo ter agido como um idiota e um covarde naquela hora. E-Eu acho que não mereço tudo isso depois de ficar em pedaços e ainda deixar o peso de nossa escapada nos seus ombros. Eu queria que você me desse uma surra, ou algo assim, por ter te acertado um soco antes. Me faria me sentir melhor. Estou falando sério. — Ele parecia mesmo estar sendo sincero.
Moore lhe deu um empurrãozinho de leve.
— Esqueça isso. Você nunca vai saber como eu também cheguei perto de desmoronar. — Ele elevou a voz para abafar quaisquer outras desculpas de Brandon. — Ei, Mike, pare de ficar olhando por essa vigia e traga aquela garrafa de Jabra.
— Mike obedeceu alegremente, e trouxe três unidades de plexatron para serem usados como copos. Moore encheu cada um deles exatamente até a borda. Ficar bêbado era sua vingança.
— Cavalheiros — disse ele solenemente — um brinde! — Os três elevaram suas canecas em uníssono. — Cavalheiros, eu lhes dou o suprimento de um ano da boa e velha H20 que costumávamos ter!
— FIM —
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