1977.IASFM.V01.N01 – Editorial
Primeiríssima edição da revista Isaac Asimov’s Science Fiction Magazine.
Nota do Blog Eu, Asimov: A partir deste post vamos pedir licença na leitura cronológica das obras de Asimov para dar um pequeno salto no futuro, até 1977 (ano em que o autor deste blog nasceu, diga-se de passagem. Iremos a partir de agora disponibilizar também e aos poucos, edição por edição, as páginas da revista Isaac Asimov’s Science Fiction Magazine que contenham textos de Asimov. Não iremos disponibilizar textos que não sejam de Asimov, pois nosso foco aqui é o Bom Doutor. Sempre que possível, iremos publicar os editoriais com a tradução em Português (aliás, desejem-me sorte nessa empreitada). Seções de Cartas (a partir de edições futuras) seguirão em formato de imagens, ao final de cada post, com texto original em Inglês. Divirta-se!
EDITORIAL
Acho que deveria começar me apresentando, mesmo que isso pareça desnecessário. A única razão pela qual colocamos meu nome na revista é o pressuposto de que todos o reconhecerão de imediato, experimentarão um tipo elevado de êxtase e correrão imediatamente para comprá-la.
Bem, se por acaso isso não acontecer… Eu sou Isaac Asimov. Eu tenho um pouco mais de 30 anos e escrevo histórias de ficção científica profissionalmente desde 1938. (Se a aritmética não está batendo, é porque você não entende nada de Alta Matemática.) Eu publiquei por volta de 40 livros de ficção, a maioria ficção científica, e por volta de 140 livros de não-ficção, em sua maioria sobre ciência. Também tenho um doutorado em Química na Universidade de Columbia e sou Professor Adjunto de Bioquímica na Escola de Medicina da Universidade de Boston. — Mas vamos parar por aí pois a minha modéstia (que é bem conhecida) me impede de continuar, além do que sou a pessoa menos importante desta revista.
Joel Davis, o nosso publisher, é muito mais importante. A empresa dele, Davis Publications, Inc., publica mais de trinta revistas, incluindo a muito bem sucedida Ellery Queen’s Mystery Magazine. Também publica a revista Alfred Hitchcock’s Mystery Magazine. Com duas revistas sob sua batuta, ambições de conquista se elevaram diante de seus olhos e ele resolveu que tinha que ter também uma revista de ficção científica irmã às outras duas. No entanto, para manter a simetria, ele precisava ter um nome próprio no título e imediatamente ele pensou em mim. Veja bem, eu era conhecido dele porque havia vendido recentemente um número de histórias curtas de mistério para a revista Ellery Queen’s Mystery Magazine e porque de vez em quando ele me encontrava em agradáveis conversas com Eleanor Sullivan e Constance DiRienzo, as encantadoras jovens que trabalhavam no escritório da EQMM.
Não posso dizer que me derreti de alegria. A verdade é que fiquei preocupado. Eu disse a Joel que nunca nenhuma revista de ficção científica, até onde eu sabia, havia recebido o nome de alguém, e que os escritores e leitores não iam gostar desse exemplo de presunçosa arrogância. Ele disse, “Deixe disso, Isaac, quem no mundo seria capaz de acusá-lo de arrogante?” — Bem, isso é verdade. Mas aí eu disse que todos os editores das várias outras revistas de ficção científica eram meus amigos e que eu não queria competir com eles. Ele disse, “Você não estará competindo com eles, Isaac. Uma nova revista forte nesse campo irá atrair mais leitores e encorajar mais escritores. Nosso próprio sucesso irá ajudar às outras revistas também”. (Eu perguntei aos outros e todos concordaram com Joel.)
Aí eu disse a Joel que eu tinha uma coluna de ciências sendo publicada em uma das outras revistas de ficção científica. Vinha saindo sem interrupção por 18 anos e sob nenhuma circunstância eu consideraria parar de escrevê-la. Ele disse, “Você não precisa parar. Continue exatamente do mesmo jeito.” (E eu tenho feito isso, com as bênçãos do editor da outra revista.) Mas aí eu vim com a cartada final. Eu disse a ele que o fato é que eu simplesmente não poderia editar uma revista. Eu não possuía a habilidade ou a experiência ou a vontade ou o tempo para tal. Ele disse, “Encontre alguém em quem você confia, com a habilidade, a experiência, a vontade e o tempo para tal, e essa pessoa pode ser o editor. Você pode ser o diretor editorial e a pessoa que você escolher irá trabalhar sob suas orientações, já que eu quero que essa seja a sua revista, um reflexo dos seus gostos e com o tipo de ficção científica que você faz. Você deveria ficar de olho no que seu editor compra, escrever você mesmo os editoriais e trabalhar junto com ele para criar as políticas da revista e resolver quaisquer problemas conforme eles surjam.”
Então esse foi o acordo; agora deixe-me apresentar o Editor. O nome dele é George H. Scithers, um engenheiro elétrico especializado em propagação de rádio e trânsito em trilhos de velocidade, que também é um Coronel Tenente (reformado) do Exército dos Estados Unidos e que escreve um pouco também. Ele faz parte do mundo da ficção científica há mais de 30 anos. Ele foi o presidente da DisCon 1, a Convenção Mundial de Ficção Científica que aconteceu em Washington em 1963 (onde recebi meu primeiro Hugo, então dá pra ter uma ideia de como aquela convenção foi bem realizada), e foi membro parlamentar em várias outras convenções. Ele possui uma pequena editora, Owlswick Press, que publica livros de interesse para a ficção científica, entre eles a nova edição revisada do Science Fiction Handbook de L. Sprague de Camp. Além disso, eu o conheço pessoalmente, sei que seu gosto no campo da ficção científica é parecido com o meu e que ele é diligente e confiável.
Para atuar como Editor Associado, George contratou os serviços de Gardner Dozois, ele mesmo um escritor de ficção científica contemporâneo digno de nota.
Mas, e quanto a revista em si? A vida de uma revista é cheia de riscos nesses dias de televisão e livros de bolso, então nossa periodicidade inicial será trimestral. O apoio que receberemos dos leitores, isso agora está nas mãos dos deuses, mas se as coisas acontecerem como seriamente acreditamos que acontecerão, iremos ajustando até chegarmos à periodicidade mensal assim que pudermos.
Estamos nos concentrando em textos mais curtos, portanto não haverá histórias em capítulos. Romances possuem várias vias de acesso aos leitores hoje em dia, já os contos possuem relativamente menos. Já que meu nome está na capa, não deveria surpreendê-lo o fato de que estaremos mais inclinados à ficção científica hard, e a formatos razoavelmente mais objetivos no que se refere a estilo. É claro, não iremos nos levar assim tão a sério e nem toda história tem que ser uma cerimônia solene. Teremos histórias de humor e teremos aquelas histórias que são inclassificáveis como, por exemplo, a história de Jonathan Fast nesta edição. Teremos uma coluna de resenha de livros na qual daremos preferência a pequenas notas sobre vários livros em vez de profundas análises de apenas uns poucos. Teremos textos de não-ficção, e faremos o possível para relacioná-los ao máximo à ficção científica. Teremos um que fala sobre a abertura de um museu, por exemplo, só que se trata de um museu espacial; e estamos trabalhando em um que compara os computadores da vida real com aqueles que encontramos nas histórias de ficção científica.
Mas você irá ver por si mesmo o que estamos tentando fazer se ler esta edição. Além disso, sem dúvida, iremos nos desenvolver de maneiras que não são facilmente previsíveis desde o começo.
Duas últimas coisas — Por amor aos Céus, não mande nenhum manuscrito para mim, mande-os para George Scithers. Por amor aos Céus também, tenha o cuidado de dar crédito a quem merece. Se esta revista lhe agradar, dê o devido crédito a George Scithers e escreva a ele para dizê-lo. É ele que está fazendo todo o trabalho. — Se, por outro lado, você achar que essa revista não passa de lixo fedorento, por favor mande sua carta para Joel Davis. Isso tudo foi ideia dele.
E lembre-se. As cartas que considerarmos dotadas de um interesse geral serão publicadas na seção de cartas com comentários meus; e juro que tentaremos escrever seu nome corretamente.
— Isaac Asimov
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