1977.IASFM.V01.N02 – Editorial

Nota do Blog Eu, Asimov: Seguimos disponibilizando aos poucos, edição por edição, as páginas da revista Isaac Asimov’s Science Fiction Magazine que contenham textos de Asimov. Não iremos disponibilizar textos que não sejam de Asimov, pois nosso foco aqui é o Bom Doutor. Sempre que possível, iremos publicar os editoriais com a tradução em Português.

No final do post, colocamos também a seção de cartas, pois quem responde aos leitores é o próprio Asimov. Imagina mandar uma carta para a revista dele e ainda receber uma resposta do próprio! Essa parte ainda ficará sem a tradução para o Português mas, se você se vira no inglês, vale à pena dar uma olhadinha também.

EDITORIAL

Eu me apresentei na primeira edição desta revista, e como todos vocês seguramente a leram e retornaram para esta segunda edição (vocês a leram, não leram?) não há necessidade de passar por aquilo de novo.

Em vez disso, vamos falar do sangue que dá vida a esta revista — as histórias. E, para obter as histórias, dependemos de vocês, os leitores.

Sim, você.

Isaac Asimov's Science Fiction Magazine v01n02 (Summer 1977) 02

Existe uma classe de seres humanos chamada “escritores de ficção científica”. Eu lhes garanto, eu sei bem do que estou falando. Eu sou um deles — e tenho sido um deles por algumas dezenas de anos — e nós somos, todos nós, as pessoas mais legais do mundo.

Porém — e este ponto a seguir é muito importante — não há um de nós sequer que já tenha nascido um escritor de ficção científica. Cada um de nós foi, primeiro, um leitor de ficção científica. Eu fui. Eu fui um leitor de ficção científica por nove anos antes de vender minha primeira história de ficção científica e me tornar um escritor de ficção científica.

Vamos ver agora de uma outra perspectiva. É possível ser um leitor de ficção científica sem ao menos querer ser um escritor de ficção científica? É óbvio, quando eu digo “leitor de ficção científica”, não estou me referindo a alguém que apenas assiste a um ou dois episódios de Jornada nas Estrelas aqui e ali, ou que de vez em quando pega para ler um romance de FC. — Eu me refiro a alguém para quem a ficção científica é mais ou menos o arroz-com-feijão, que assina revistas, que vasculha as estantes de livros e revistas, alguém para quem os nomes dos vários escritores da área são como os nomes das pessoas da família.

Alguém como você!

Qualquer pessoa que seja esse tipo de leitor ou leitora só pode querer se tornar um escritor de ficção científica. Eu passei por isso e me lembro muito bem.

E você também pode. Você pode se tornar um escritor de ficção científica. Você quer, não quer?

O que o impede? Será que é porque é difícil?

Bem, sim e não. Escrever boa ficção científica realmente é difícil para o iniciante. Fazer qualquer coisa que requeira uma certa dose de habilidade é sempre difícil para qualquer iniciante.

Mas simplesmente escrever ficção científica é fácil. Esqueça isso de ter que ser “boa” ficção científica. Simplesmente colocar o papel na máquina de escrever e sair batendo palavras até que você tenha uma péssima história de ficção científica na sua frente é como estalar os dedos.

Mas qual é o sentido de se escrever uma história péssima?

Bem, qual é o sentido de começar a aprender Ciências no ensino secundário? Qual é o sentido de ficar praticando as escalas no violão ou no piano? Qual é o sentido de treinar passe de bola?

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Escrever é uma habilidade que tem que ser adquirida, e é com muita prática que se aprende.

Você pode ler livros sobre as técnicas de escrita e assistir a palestras sobre como escrever, comparecer a conferências de escritores, assinar revistas para escritores, mas nada disso irá fazer de você um escritor.

Somente inventaram uma única coisa capaz de transformar alguém em um escritor. Escrever!

É o próprio ato de escrever que ensina. São as péssimas histórias que tornam possível que você um dia escreva as boas histórias. Você acha que a história que eu escrevi quando tinha onze anos era boa? É claro que não. Eu tive que continuar escrevendo, uma história aqui, outra ali, por dez anos antes que tivesse a capacidade de escrever “O Cair da Noite”.

Mas não é um tempo longo demais para insistir? Diabos, leva mais tempo do que isso para se tornar um bom cirurgião, e ser um bom cirurgião não é nem de longe tão empolgante quanto ser um bom escritor.

Claro, uma vez que você comece a escrever suas histórias, a tendência é mostrar para sua esposa ou marido, ou seus pais ou seus filhos, ou seus professores ou seus vizinhos. Não faça isso. É perda de tempo. Todos irão dizer que a história é ótima e isso não irá lhe trazer absolutamente nenhum avanço.

Talvez você tenha um ímpeto de mandar o texto para o seu escritor favorito e pedir a ele que dê uma olhadinha e lhe dê aquelas poucas dicas necessárias para fazer com que a história fique ótima. Não faça isso. Escritores geralmente são pessoas muito ocupadas que não sabem o que fazer com as histórias de ninguém a não ser as deles.

O que sobra fazer? Fácil. Mande suas histórias para editores. Se você escreveu uma história de ficção científica, mande-a para os editores de revistas de ficção científica. Mande-a para George Scithers, o Nobre Editor desta revista. Ele vai até lhe mandar umas ideias de que tipo de histórias de ficção científica estamos procurando, se você escrever para ele na Caixa Postal 13116, Philadelphia PA 19101 e pedir — desde que mande também um envelope já com os selos e com o seu endereço para resposta.

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Você tem medo das rejeições? Não tenha. É a coisa mais comum para todos os escritores iniciantes e os editores enviam as mensagens de rejeição sem qualquer hostilidade ou ódio, eu garanto a você.

Alguns escritores, claro, conseguem vender uma história logo na primeira tentativa. Robert A. Heinlein fez isso. Se você é um novo Robert A. Heinlein, talvez você também o faça. No entanto, se você não passa de um novo Isaac Asimov, relaxe. Eu recebi 12 rejeições antes de conseguir vender minha primeira história, e mesmo hoje em dia eu recebo algumas de vez em quando.

Ninguém gosta de receber uma carta de rejeição. Eu com certeza nunca gostei e, quando recebo uma hoje em dia, ou odeio, mas aí eu simplesmente começo a escrever outra coisa, e você deveria fazer o mesmo.

Mais ainda, imagine que você receba cartas de rejeição suficientes para cobrir as paredes do seu apartamento. Isso só vai aumentar ainda mais o sabor da vitória quando você fizer a primeira venda de uma história. A intensidade desse triunfo será algo que esses coitados desses novos Heinleins nunca sentirão.

Então estou pedindo a todos vocês que tem vontade de escrever ficção científica para que o façam, e mandem o resultado para esta revista. — E por que eu estou fazendo isso? Será que nós não gostaríamos de ter histórias dos profissionais já mais gabaritados e experientes?

Claro, gostaríamos, a maior quantidade possível. — Mas escritores experientes morrem, se aposentam, resolvem fazer outra coisa, e até ficam cansados e obsoletos. Nós precisamos de novos escritores para injetar vigor renovado em nosso campo, e para manter os escritores experientes no topo de suas habilidades (Não há nada melhor para fazer você correr mais rápido do que algum adolescente cheio de carunchos na cara saltitando atrás de você)

E será que nós realmente queremos receber aquelas péssimas histórias, a maioria delas difíceis até de ler? Sim, queremos, porque George Scithers nunca sabe quando ele irá colocar as mãos em um texto de alguém de quem ele nunca ouviu falar e descobrir que ele tem nas mãos um novo Arthur C. Clarke, por exemplo — ou descobrir alguém que poderá ser um novo Clarke se tiver um empurrãozinho.

Então, por favor, ao trabalho,

—Isaac Asimov

Abaixo, seguem alguns prints de cartas dos leitores para a revista – ainda sem tradução para o Português.

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Isaac Asimov's Science Fiction Magazine v01n02 (Summer 1977) 06

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