1934.000 – Little Brothers
Primeira aparição: | Revista literária da Brooklyn Boys High Recorder (Primavera 1934) – Asimov tinha 14 anos. |
Outras aparições: | Before the Golden Age (1974) – não aparece no índice, mas está no início do ensaio 1934; |
Opus 200 (1979); | |
Além dessas duas aparições, uma edição limitada foi produzida em 1989 – apenas 126 cópias foram impressas, das quais 100 foram distribuídas – todas elas, autografadas por Asimov. Sabemos que uma cópia foi enviada para Arthur C. Clarke (veja página 108 do livro Yours, Asimov). | |
Observação: | Na data de hoje, procurando na internet, encontrei 3 cópias desse livro disponíveis para venda, com preços que variam de R$500 a R$750. Alguém se habilita? (AbeBooks.com) |
Comentários: | O próprio Asimov nem lembrava direito desse texto até mencioná-lo a título de curiosidade no livro Como Tudo Começou (Early Asimov). Após o fato, começou a pensar no assunto e, encucado sem saber se o texto ainda existia, tratou de garimpa-lo (ele descreve os detalhes de sua busca no livro Opus 200, no início do último capítulo: Autobiografia). |
Publicação no Brasil: | Nunca foi publicada oficialmente, porém nossa equipe do Eu, Asimov fez a tradução do conto, que você encontra ao final deste post, logo após nossos comentários. |
Resenha: O texto nada mais é do que uma curiosidade, um documento histórico, um exercício literário de um menino de 14 anos que, como ele mesmo diz, não demonstrava em absolutamente nada o talento literário daquele que se tornaria um dos escritores mais prolíficos da história da humanidade. Por isso mesmo não vamos categorizar esse texto como verde (leitura imperdível), amarelo (vale a leitura) ou vermelho (só para completistas). Mas fica aí a curiosidade para os fãs, esperamos que apreciem nosso esforço de tradução.
Irmãos Menores
(Tradução livre para o blog Eu, Asimov – por João Wolf)
Minha missão neste momento é expressar os rancorosos sentimentos que nós, os irmãos maiores (desgraçadas sejam nossas vidas) temos pelos nossos irmãos menores.
Quando eu recebi pela primeira vez a notícia que teria um irmãozinho, no dia 25 de julho de 1929, me senti um pouco desconfortável. Eu mesmo não sabia nada a respeito de ter um irmão, mas muitos dos meus amigos já haviam relatado em inúmeras histórias as inconveniências (para dizer o mínimo) de ter que cuidar de bebês.
No dia 3 de agosto chegou em casa meu irmãozinho. Tudo o que eu via era um amontoado de pele rosada, aparentemente sem a capacidade de causar estrago nenhum.
Naquela mesma noite, eu pulei da cama repentinamente com arrepios por todo o corpo e de cabelo em pé. Eu havia escutado um guincho que não parecia ter sido produzido por nenhuma criatura deste planeta. Em resposta às minhas frenéticas indagações, minha mãe me informou de maneira muito natural que havia sido simplesmente o bebê. Simplesmente o bebê! Eu quase caí duro no chão. Um insignificante bebê, de apenas 4 quilos, com dez dias de idade, ser capaz de gritar daquela maneira! Como assim? Eu tinha certeza que nem mesmo três homens gritando juntos conseguiriam produzir tantos decibéis, mesmo utilizando ao máximo suas cordas vocais.
Mas isso havia sido só o começo. Quando os dentinhos dele começaram a nascer, começou também a tortura de verdade. Eu não consegui pregar o olho por dois meses. Eu só conseguia continuar vivendo porque dormia de olhos abertos na escola.
E ainda tem mais. A Páscoa estava chegando e eu estava todo animado com a ideia de viajar para Rhode Island – até que aquele pivete do meu irmão pegou sarampo e todos os planos viraram pó.
Assim que ele atingiu a idade em que todos os seus dentes já haviam nascido, achei que teriam um pouco de paz, mas não, isso não poderia ser. Eu ainda não havia aprendido que quando uma criança aprende a andar e a emitir aquele balbuciar de bebê, ela vira algo pior que um tufão.
O passatempo favorito dele era cair das escadas, atingindo cada degrau com um barulho retumbante. Isso acontecia em média uma vez a cada dois minutos, e sempre vinha acompanhado de uma repreensão da minha mãe (não para ele, mas para mim por não estar tomando conta dele direito).
“Tomar conta” dele não é tão fácil quanto parece. Os bebês têm o hábito de mostrar a sua devoção agarrando generosos fachos de cabelo e puxando-os com uma força que você nunca poderia imaginar que um ser de um ano de idade seria capaz de possuir. Quando, após alguns minutos de tortura excruciante, você consegue convencê-lo a soltar, ele resolve se distrair batendo na sua canela com um pesado pedaço de ferro, de preferência um que seja afiado ou pontudo.
Um bebê não é uma peste somente quando está acordado; ele é assim também quando está tirando sua sonequinha da tarde.
Cena típica: Estou sentado em uma cadeira ao lado do berço, totalmente imerso na história dos Três Mosqueteiros, e meu irmão está, aparentemente, dormindo pacificamente; só que não. Com um instinto sinistro, apesar de seus olhos fechados e a ausência da habilidade de ler, ele sabe exatamente quando eu chego numa parte emocionante e, com um sorriso malicioso, escolhe exatamente aquele momento para acordar. Com um resmungo eu deixo meu livro de lado e começo a balançar o berço até que meus braços pareçam que vão cair a qualquer momento. Quando finalmente ele volta a dormir, eu já perdi o interesse no famoso trio de mosqueteiros e meu dia está arruinado.
Agora meu irmãozinho já está com quatro anos e meio e a maioria desses hábitos irritantes já desapareceram, mas no fundo eu sinto que ainda há mais por vir. Eu temo o dia em que ele começará a frequentar a escola, colocando um novo fardo em meus ombros. Tenho certeza absoluta que eu serei afligido não somente pelos trabalhos de casa passados pelos meus próprios professores insensíveis, mas ficarei responsável também pelos do meu pequeno irmãozinho.
Nem morto!
(Nota de Asimov: Desnecessário dizer que este texto é completamente ficcional, a não ser pelas datas de nascimento do meu irmão e sua chegada em casa, que estão corretos. Na verdade, meu irmão Stan era uma criança modelo, que me deu muito pouco trabalho. Sim, eu o empurrava no carrinho um bocado, mas eu tinha sempre um livro aberto na barra de direção, então eu não me importava. Eu também me sentava ao lado do berço quando ele estava dormindo, mas, de novo, eu estava sempre lendo – e ele raramente me perturbava. E, quando chegou a época, sempre fez seu próprio trabalho de casa.)
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